Jovens e experientes, eles usam a gastronomia como uma ferramenta de transformação social

chef

SÃO PAULO

Eles são jovens, passaram por restaurantes influentes e têm consciência de que a gastronomia extrapola a cozinha e passa por questões sustentáveis. Também querem transformar o mundo.

Com essa ideia, o chef Edson Leite, 34, criou o Gastronomia Periférica. Com sua própria cozinha-escola, oferece aulas de culinária gratuitas aos moradores do Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo.

“A gente quer mostrar que não precisa de ingrediente caro. Dá pra usar o que tem em casa e comer barato”, diz ele, que gravou aulas para um programa na internet que leva o mesmo nome do projeto.

Leite começou como cozinheiro no restaurante A Leitaria Gourmet, em Lisboa, onde morou por sete anos. Voltou ao Brasil para enfrentar o elitismo na gastronomia e mostrar que é possível fazer e servir comida boa “na quebrada”.

Quem quiser conhecer suas criações pode provar as 11 etapas de seu menu-degustação (R$ 59), servido às sextas.

A iniciativa de Leite chamou a atenção dos chefs Marcelo Corrêa Bastos (do Jiquitaia) e Raul Godoy (do Bio), que se voluntariaram para dar aulas. Atualmente, são cerca de 15 alunos, de 18 a 42 anos.

A projeção foi reforçada com o lançamento de um aplicativo gratuito, também chamado Gastronomia Periférica, que mapeia onde comer bem no bairro e nos arredores.

Leite está prestes a lançar uma nova versão do aplicativo. A ideia é que ele tenha geolocalização, o que vai permitir que os próprios estabelecimentos da periferia de todo o país possam se cadastrar.

Segundo ele, o objetivo é dar visibilidade para estabelecimentos que estão fora dos circuitos já reconhecidos, como Pinheiros e Jardins, no caso de São Paulo.

Outro chef engajado em projetos sociais é Cesar Costa, 27. À frente doCorrutela, na Vila Madalena, busca a sustentabilidade em toda a operação do restaurante. Desde a procedência dos ingredientes até cuidados com o lixo.

Além de parceria com catadores do bairro e da compostagem dos resíduos orgânicos, o restaurante tem placas de energia solar e sistema de aproveitamento da chuva, que reduzem os gastos de água e luz em mais de 30%.

“Sustentabilidade é, hoje, um modelo de negócio. O restaurante tem que dar dinheiro, e meu ativismo é comprar, cozinhar e servir”, diz Costa, que dispensa discursões no cardápio e nas redes sociais.

João Augusto Batista, 27, é chef do restaurante Fazenda Culinária, no Museu do Amanhã, no Rio. Começou aos oito anos, ajudando em uma padaria na comunidade de Divineia, no Andaraí, onde vive.

Conhecido como João Diamante, ele fundou o projeto social Diamantes da Cozinha. Com ele, ensina gastronomia “do cultivo à finalização do prato”, como define, para interessados que não têm como pagar pelos estudos.

As aulas, que incluem administração de custos a empreendedorismo, são ministradas por professores voluntários. Diamante reverte parte do salário para manter a iniciativa, que conta com doações.

“Meu projeto é uma forma de compartilhar o que aprendi”, diz. Compartilhar, para ele, é o valor mais importante que define sua geração. “Temos sede de fazer e aprender, metemos a cara mesmo.”


ONDE FICAM

Gastronomia Periférica – r. João de Santana, 358 – Chácara Santana, São Paulo

Corrutela – r. Medeiros de Albuquerque, 256 – Vila Madalena, São Paulo

Fazenda Culinária – av. Rodrigues Alves, 2 (Museu do Amanhã), no Rio de Janeiro

Rafael Tonon  – Folha de São Paulo