17/06/16   Convivência com a Seca

Dia Mundial de Combate à Desertificação: alternativas para o Semiárido brasileiro.

Foto: Marcelino Ribeiro

Marcelino Ribeiro - Área de caatinga desmatada e queimada

Área de caatinga desmatada e queimada

O dia 17 de junho foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Mundial de Combate à Desertificação. O momento é de refletir sobre os prejuízos e, principalmente, de pensar em alternativas para minimizar os efeitos desse fenômeno que vem avançando a cada ano.

Somente no Brasil, do total de 982.563 km2 da área do Semiárido, cerca de 600 mil km2 já foram gravemente atingidos, englobando oito estados da região Nordeste, além do norte de Minas Gerais. Nos últimos 10 anos, o desmatamento da Caatinga atingiu uma área equivalente ao tamanho de Portugal, a ponto de, hoje, estar com quase 50% do seu território afetado por processos acentuados e severos de desertificação.

Entre os quadros mais graves está o Ceará, onde todos os 184 municípios são afetados por esse fenômeno. No Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí a extensão afetada ultrapassa 90% dos seus territórios, a maior parte localizada no Semiárido, onde as condições ambientais são vulneráveis à exploração extrativista ou ao manejo inadequado dos recursos naturais.

O termo desertificação remete à imagem de um “mar” de areia, sem planta alguma a compor a paisagem, de poucas chuvas em períodos muito breves do ano, e onde não se pratica agricultura – salvo em alguns poucos oásis. A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas – UNCCD (sigla em Inglês) emprega o termo desertificação para caracterizar realidades de degradação extrema e se aplica à terra, à cobertura vegetal e à biodiversidade e está associada à perda da capacidade produtiva nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas.

Para o pesquisador da Embrapa Semiárido Iêdo Bezerra Sá, “conciliar o desenvolvimento econômico com o respeito ao meio ambiente somente é possível com tecnologia e informação. Para isso, são necessárias políticas públicas que incentivem a adoção de tecnologias que minimizem o avanço dos processos de desertificação”.

Nos últimos cinco anos, a seca prolongada na região tornou evidente as consequências derivadas da ação humana. É significativo, ainda, observar que, nas áreas em processos de desertificação, é elevada a incidência de pobres e de indigentes, em proporções significativamente maiores que a média nacional.

O pesquisador também aponta diversas alternativas já estudadas e disponibilizadas pela Embrapa e seus parceiros para ajudar a combater a desertificação:

Recuperação da mata ciliar – Controla a erosão das ribanceiras das calhas dos rios e riachos, controla o aporte de nutrientes e de produtos químicos carreados aos cursos d’água, protege a zona ripária e filtra os sedimentos e nutrientes.

Reflorestamento – Regularização do ciclo hidrológico, prevenção da erosão, proteção à fauna, melhoria das condições geoambientais, incentivo à apicultura, controla os níveis de degradação do solo e da vegetação, aumenta os recursos hídricos, reduz os prejuízos na agricultura relacionados com enchentes, aumento do estoque sustentável de madeira legal, sequestro de CO2 e redução do efeito estufa.

Quintais produtivos – Conservação do meio ambiente, maior diversificação da produção e menos riscos, maior proteção dos solos contra efeitos erosivos, aumento da ciclagem e disponibilidade de alimento, proximidade da moradia do produtor, melhora a qualidade do alimento em função da não utilização de agrotóxicos e ainda auxilia na segurança alimentar do rebanho.

Sistemas Agroflorestais (SAFs) – Custos de implantação e manutenção reduzidos, diversificação na produção, aumentando a renda familiar e melhorando a alimentação, favorece a recuperação da produtividade de solos degradados através de espécies arbóreas implantadas, melhora a estrutura e fertilidade do solo devido à presença de árvores que atuam na ciclagem de nutrientes, reduz a erosão laminar e em sulcos, aumenta a diversidade de espécies e aumenta a produtividade, devido a fatores interligados do sistema (sombra + conforto animal).

Barragem subterrânea – Grande economicidade na construção, menor perda de água por evaporação, pois não existindo “espelho d’água a insolação quase não atua, e maior proteção da água contra a poluição bacteriana superficial, já que a água fica armazenada na sub-superfície.

Barragens sucessivas – Redução do assoreamento dos reservatórios e rios, promove a dessalinização ou a fertilização gradual do solo e a oferta de água em quantidade e qualidade nos tributários ou riachos da microbacia hidrográfica, promove o ressurgimento da biodiversidade da Caatinga, favorece a disponibilidade diversificada de alimentos no fundo do vale, reduzindo a pressão da vida animal sobre a vegetação, nas vertentes da microbacia hidrográfica, proporciona disponibilidade de água para o consumo animal, segundo uma distribuição temporal e espacial satisfatória.

Barraginha / Barreiro – Melhora a qualidade do solo por acumular matéria orgânica, mantém o microclima ao redor da barraginha mais agradável, e a umidade no entorno também é favorável ao plantio de grãos, frutas, verduras e legumes.

Barreiro trincheira – Armazena água da chuva para a dessedentação animal e para a produção de verduras e frutas que servirão à alimentação da família, garantindo a soberania e segurança alimentar.

Captação in situ – Controla a erosão, conserva o solo, maior disponibilidade de água para as planta, aumentando a resistência aos veranicos, baixo custo de implantação, e favorece a recarga do lençol d’água:

Cisterna calçadão – Baixo custo, fácil construção, a água pode ser utilizada para irrigar quintais produtivos, plantar fruteiras, hortaliças e plantas medicinais, e para criação de animais, pode-se fazer irrigação de salvação, utilizar a água para sistemas simplificados de irrigação, e utilizar o calçadão para secagem de produtos como feijão, milho, goma e a casca e a maniva da mandioca que, passadas na forrageira, servem de alimento para os animais e para outros usos.

Poços rasos – Contribui para manter a família de pequenos produtores rurais no campo e amplia a renda familiar a partir da produção contínua de frutas e hortaliças.

Isolamento da área – Conduz a regeneração natural e enriquecimento da área para incremento da biodiversidade.

Cordões de pedra em contorno –  Adequado a pequenas propriedades, controla o volume e a velocidade das enxurradas, deposição e retenção de uma massa de sedimentos sobre a área onde são construídos, modificação do micro relevo na faixa compreendida entre os cordões, aumento da profundidade efetiva sobre a área de deposição, melhoria das propriedades físico-químicas do solo, sobre a área de deposição.

*Saiba mais sobre projetos, soluções tecnológicas, publicações e outras informações no Espaço Temático da Embrapa sobre “Convivência com a seca“.

 

 

Fernanda Birolo
Embrapa Semiárido

Marcelino Lourenço
Embrapa Semiárido